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Gotham City 1889: Um Conto de Batman | Animação surpreende, apesar da curta duração e tropeços no roteiro

O que aconteceria se o Cavaleiro das Trevas encontrasse o assassino em série mais famoso de todos os tempos ? Caso você seja fã da DC, provavelmente já sabe o que acontece ou já ouviu falar sobre esse encontro. Se você não é fã da editora, saiba que essa história se passa em uma realidade alternativa,  Elseworld ou um universo paralelo dentro do multiverso da DC. Elseworld é um tipo de publicação da editora DC Comics no qual transcorrem com seus personagens eventos não-convencionais, ocorrendo as histórias desse selo um mundo à parte. Universos paralelos onde podemos ver o personagem em uma situação que não aconteceria no "mundo real" em que ele vive. São eventos que não contam para a cronologia oficial do universo DC. Em algumas histórias, os personagens são vistos em outros momentos históricos, como o Velho Oeste; em outras, futuros possíveis (geralmente trágicos) são mostrados; e por vezes são vistas histórias em que um pequeno detalhe da história é mudado.



Sinopse
Estamos no final do século 19, numa Gotham que já está emergindo no século 20, e uma das cidades americanas com maior criminalidade. O assassino conhecido como Jack, o Estripador atacava mulheres de vida fácil durante a noite, transformando a vida da cidade em algo insuportável. Somente o vigilante conhecido com Batman pode acabar com seu reinado de terror. A história nos apresenta essa visão de Gotham como um lugar onde há miséria, a prostituição e a violência reinam soberanos. Bruce Wayne segue retratado como um conhecido milionário e jovem filantropo que não hesita em gastar sua fortuna em ajudar os necessitados e levar Gotham a um futuro brilhante.



É através desse exercício de imaginação que nasceu a HQ original Um Conto de Batman : Gotham City 1889 , minissérie de uma edição lançada em 1989, que imaginava um embate entre Batman e o famoso assassino Jack, o Estripador na cidade de Gotham da Era Vitoriana. Honestamente, o quadrinho não é muito bom , o que salva são as ilustrações estilizadas do mestre Mike Mignola ( Hellboy ). O conto de Brian Augustyn era muito curto e, focava em inserir o Homem-Morcego na Era Vitoriana e todos os elementos daquela época, alguns personagens não eram bem desenvolvidos . Por conta disso, Jack, o Estripador era quase um "ninguém" na narrativa, o roteiro era tão ruim que, qualquer leitor poderia desvendar o mistério por trás de sua identidade ainda nas primeiras páginas. A animação  Gotham City 1889: Um Conto de Batman  ( 2018 ) é levemente inspirada nessa história.



Pelo jeito, o roteirista James Krieg QUASE aprendeu com os erros da hq. O longa animado de 2018 corrige quase todos os erros da história original, o roteiro continua curto não dando espaço para o desenvolvimento de alguns personagens, focando apenas em Batman e Jack, mas, dessa vez, diferente da hq, o assassino tem mais destaque e o final é surpreendente. O espectador reconhecerá várias versões de personagens da mitologia do Homem-Morcego ao longo da projeção. Mas, assim como na hq, eles não são bem desenvolvidos. Fica aquela vontade de ver um pouco mais dessas versões dos personagens. Tirando esses deslizes, a animação é bem feita e, confesso, fiquei imaginando uma versão live action dessa história, seria incrível . Ben Affleck ou Josh Brolin seriam ótimas escolhas para viver o Bruce Wayne nessa adaptação e a direção de Guy Richie ( claro, né?) seria um sonho. Há todo um cuidado com a iluminação, o contraste em o primeiro e o segundo plano, ajuda a manter o clima de mistério e suspense, o traço da animação lembra muito a série animada dirigida por Bruce Timm ( produtor desse projeto).


A ambientação de época poderia se beneficiar muito mais se o roteiro fosse melhor desenvolvido e desse mais espaço para tal, pq esse é um dos pontos positivos da animação. Aliás, a melhor parte da animação, é quando Bruce Wayne deixa fluir o seu "lado detetivesco". Afinal, ele é o maior detetive do mundo e suas habilidades caem como uma luva na era vitoriana. Nessa hora, senti que o roteirista poderia ter explorar mais esse lado "Sherlock" do Homem-Morcego. Imaginar como seriam os "brinquedos" do Batman nessa época, ou como ele se sairia,  sem os seus brinquedos tecnológicos, essa versão do herói é mais violenta e por consequência, mais investigativa ( por isso, imaginei a versão em live action dirigida pelo Guy Richie , pensem no sucesso de sua versão do Sherlock Holmes).



São pontos pertinentes, que deveriam ser levados em conta quando o roteiro foi escrito. E, acreditem, havia um grande potencial nessa animação, por isso estou equilibrando essa análise e, não apenas enaltecendo o longa. Vi muitas oportunidades perdidas, aja visto que as animações da DC são muito boas, com um alto teor técnico. Falando sobre o tema, eu não poderia deixar de mencionar as duas referências em homenagem a Sherlock Holmes , que, nesse universo, foi um dos mentores do Batman ( na hq, um dos principais mentores do herói, é o Freud) , em certo momento da animação , temos a citação de uma famosa frase, "Quando se retira o impossível, o que resta, por mais improvável que seja, deve ser a verdade", e a utilização do código dos homenzinhos dançantes provenientes de um dos melhores contos do detetive. 



Tudo isso é abortado rapidamente, por causa da pressa em colocar a história em movimento. O longa animado tem, apenas, uma hora e dezessete minutos de duração, muito pouco para uma história como essa. Talvez o longa ganhasse muito se tivesse uns vinte minutos a mais. Mesmo que as perseguições do herói ao vilão pelos telhados de Gotham, as cenas de luta e a bela sequência no zepelim sejam bem resolvidas, a direção de Sam Liu veterano nas animações da DC ) as vezes soa confusa. Faltou pulso firme na hora de revisar o roteiro, prova disso é o desperdício de grandes nomes do universo do Batman, cujas as participações são subaproveitadas, funcionando mais como um "fan service" do que um instrumento que contribuísse de fato com a narrativa. Calma, não que o "service", aqui , seja ruim, só é mal feito, mesmo. De todos os "services" que pipocam durante a animação, gostei muito da introdução dos "Robins", todo o conceito foi bem abordado. Um grande aceno de cabeça para os fãs do universo do Homem-Morcego.



Na sequência final, no clímax do longa, Batman perde um de seus maiores talentos : o domínio da luta. Isso me incomodou muito, mesmo que a animação não economize nas poças de sangue, Jack, o Estripador é retratado quase como se fosse uma cópia vitoriana do Bane, um brutamontes invencível, digno dos grandes lutadores de MMA, surrando muito o herói ao longa da projeção. Faltou o embate psicológico, a investigação e o suspense, marca registrada das histórias de Batman e Sherlock Holmes . A revelação da verdadeira identidade do vilão é outro elemento bem construído da trama. A surpresa se segura até um tempo ideal da narrativa e, querendo ou não, choca bastante. Além de ser muito coerente com a época em que a história se passa. Verdade seja dita, é a animação mais adulta do personagem desde sua participação em Liga da Justiça: Ponto de Ignição (2013).



Batman : Gotham City 1889: Um Conto de Batman ( Batman: Gotham by Gaslight : algo como Gotham a luz de lampião ou candeia) é bem melhor que a hq de mesmo nome, apesar de ser quase totalmente diferente dela. É o sopro de frescor nas animações do personagem, e, em se tratando de ser uma história situada em um universo paralelo do herói, isso não atrapalha a sua cronologia. Essa aventura adulta do Batman, levanta debates importantes como a misoginia, infelizmente, algo muito atual. Apesar de alguns tropeços, pra mim, é uma das melhores animações do Homem-Morcego dos últimos 10 anos e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade perdida. Tinha grandes chances de ser a MELHOR delas. Uma das maiores forças do filme é que ele não é religiosamente fiel ao material de origem , mas poderia ser melhor trabalhado, a premissa é sensacional.Viram o paradoxo? Seria hora de um novo Flashpoint?

Vale a pena conferir.


🎬 :★★★

Gotham City 1889: Um Conto de Batman (EUA,2018)

Direção: Sam Liu
Roteiro: James Krieg
Elenco (vozes): Jennifer Carpenter, Bruce Greenwood, Tara Strong, Kari Wuhrer, Scott Patterson, Grey DeLisle, John DiMaggio, Anthony Head, Yuri Lowenthal, Lincoln Melcher, Bruce Timm, William Salyers, Chris Cox, Bob Joles, David Forseth
Duração: 78 min.
1º TAKE

O 1º TAKE é um espaço criado para dividir com os leitores assuntos interessantes sobre música,séries, cinema, teatro e arte em geral. Blog editado pelo louco Walther Jr. ,um espectador apaixonado por cinema,teatro,música,cerveja, vinho,pizza,pão na chapa,churrasco,lasanha,empada,pão de queijo... Ou seja,sou normal como todo mundo, não esperem nada profissional por aqui. Forte abraço e um viva a sétima arte.

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